De bruxa, apenas o nome e função. Não tinha nariz aquilino, nem rugas, muito menos unhas compridas ou risada maléfica. Seus seios fartos e coxas voluptuosas marcavam o transparente vestido. Seu rosto, era dócil e invocava carinho, ao mesmo tempo que gerava respeito. Nos braços, arcanos indecifráveis para mim, de tempos imemoriais e sabedoria pagã. Sua presença me constrangia, pois sentia que naquele pequeno tamanho, haveriam coisas de me prender e me ensinar.
Tomando minha, mão, me mostrou o Cosmos. Feito da poeira dos planetas, vi do fim ao começo. Do caos a ordem, todas as coisas apareceram. Átomos surgiam, colidiam, criavam e cessavam. Éramos nada, tão pouco em tão pouco tempo. Vislumbrei as peças do éter que compõem a sinfonia universal, um canto que ainda não havia decifrado e nem sequer ouvido. Mozart e Bach pareciam cantigas próximo ao que vi.
"Esta é a minha mensagem", sussurrou em meu ouvido. "Somos apenas ouvintes do que se passa, meros espectadores desta grande ópera. Minhas linhas de Ley só emanam da força impetuosa do eterno passar. Pó, eu e você, num aguardo do fim e do re-existir. Não existe nada, e tudo existe. Por que temes? Aproveita o que podes, teu sentimento é a tua causa e o teu fim. Crowley disse apenas o óbvio. Somos tudo pois estamos intrinsecamente ligados, e apenas uma semi-coma da canção."
Não era o que acreditava, pois não era o que via. O caos em minha cabeça era apenas o homem sem a capacidade de entender o tempo da música. Ela ria, enquanto valsava ao som do vácuo. "Não temas, sou tua e tu és meu, mesmo que nunca seja tua e tu nunca serás meu. Não vês? é apenas o caminho do que há, caminhando para o que há de ser."
Do jeito que veio, voltou. Me deixou pensando na natureza ínfima do meu ser, enquanto pensava eu ser eterno.
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