terça-feira, 15 de outubro de 2013

Teoria do Brinco

Eu sempre quis ter um brinco. Só isso, apenas um brinco. Lembro de, quando criança, desenhar todos os meus personagens usando uma argola, para mostrar o quão legal eles eram.
Durante anos nutri essa vontade, que meu pai tratava de fulminar caso qualquer sinal de tal ideia surgisse. Bom, com dezoito anos e com o peito cheio de confiança, fiz um ato de terrível ousadia: furei a tal orelha.
O que isso tem de tão filosófico? Per si, nada. Mas não custa muito tirar alguma lição disso tudo. 
Passei a vida aspirando grandes coisas: Sucesso, felicidade, conquistas, destaque fizeram sempre parte do meu imaginário. Ainda o faço, é bem verdade. Mas, como obra da Justiça que rege esse universo (chame de Deus, chame de Karma ou do que bem entender, hoje em dia, não se pode falar um sem ofender o outro) é frequente que eu não consiga as coisas. Ou nem chego a ter as chances, ou pior, morro na praia. Gostaria que fosse algo dramático de minha parte, mas não é. Sempre sou aquele que tem as histórias mirabolantes, que sem dúvida parecem fruto da imaginação ou do instinto de escape, para justificar a falha, enquanto todos os outros dizem: "Foi fácil". Me dói admitir que, as vezes, invejo um pouquinho da vitória daqueles que me cercam, mesmo que não seja minha intenção consciente.
O problema, é que o sucesso é a pior droga que existe. Existem incontáveis provérbios que mostram a dualidade entre se corromper com a vitória e aprender com a derrota. E com razão. Cada dia, entram nessa vida, toneladas de workaholics, hedonistas e bon-vivants, em busca apenas do seu próprio ganho, ignorando todos os nuances que a vida tem a oferecer, sejam eles bons e ruins.
Sim, vencer sempre é ignorar o real sentido da vida. Assim como se arrepender das quedas, das mancadas, das burrices. São elas que nos mostram que, acima de tudo, somos humanos. Temos, dentro de nossa alma, a capacidade de chorar, de nos sentirmos tristes, reclusos. 
E quando, simplesmente, tudo estiver muito ruim, eu lembro do meu brinco. Apesar de hoje ser apenas um adereço, preso à minha orelha, ele representa uma vitória pessoal, da qual eu superei a mim mesmo, e essa sim, é a melhor conquista que existe.