quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Navio de Teseu

Quando me deparo comigo mesmo, frente ao espelho, não me reconheço. Quem se posiciona à minha frente? Alieno-me da imagem que se forma. Onde está quem saiu de casa há mais de uma década e quem é esse que agora assume meu registro geral?
Não que o repudio de todo, mas o que os anos fizeram? Teria orgulho de mim aquele neófito de outros tempos, ou sentiria desprezo? Eu me descasquei de meus dogmas e virei quem deveria ser tal como uma fruta é para sua semente ou acumulei limo de fora como uma pedra no fundo de um rio? Eu virei o produto de um meio do qual desprezava ou ou meio permitiu quem eu fosse quem eu queria ser?
Eu sou a soma das minhas experiências ou o aglomerado de minhas concessões?
Na soma das interrogações sigo sendo apenas um agente observador de mim mesmo, sem saber se mudo o meio ou fui mudado por ele.