"Como foi sua migração desse ano, pequeno pássaro?" pergunto eu, ávido para que ela cante para mim. E ela gorjeia, me conta as coisas que vê no velho continente. Conta que os franceses, quando a veem exultam: "j'adore, j'adore petit oiseau!" , que se engalhofa na cidade das sete colinas e que lá gosta de se aninhar, mas que entende quando Gonçalves Dias dizia que as palmeiras daqui são melhores.
As vezes me frustro quando a andorinha se vai, porque todo ano quando ela peregrina, um pedacinho de mim também vai, e as vezes acho que essa parte de mim morre. Sinto que minha vida é um pouco menos feliz sem ela, que o sol brilha um pouco menos e os dias são mais morosos. Quando ela volta, não vem sem os permeios de suas próprias aventuras. Chega um pouco machucada, um pouco ferida, e tudo que eu gostaria de fazer é cuidar dela. As vezes ela sequer nem quer pousar por aqui, sente que já se aproveitou demais do meu poleiro. Estúpido, deixo meu orgulho falar mais alto, digo a mim mesmo que o pedaço do meu coração que ela leva é grande demais pra se deixar ir.
Ah, mas como me faz falta a andorinha de pernas longas! Como eu conto os dias do calendário, esperando a próxima migração para ouvir a sua cantoria, ver seus lindos penachos. E eu sei, e como sei, que eu nunca teria a coragem ou os meios para engaiolar o mais lindo passarinho que já vi, e com todo prazer, deixo que ela leve uma parte de mim, afinal, esse pedaço sempre foi e sempre será dela.
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