O voyage branco com detalhes pretos encostou no local próximo as 19:00. O Calor de dezembro estava mais forte que o normal e não devia fazer menos do que 30 graus. Cláudio deu a última puxada no cigarro, ajeitou o distintivo no peito e a pistola no coldre abaixo do braço. Abriu a porta com a sigla DECPA e jogou a bituca pra fora e seguiu para o bar.
-Inspetor Claudio? - dizia o policial militar, com cara de assustado - eu não sei como explicar isso, mas tem um cara com pernas ao contrário lá dentro morto com as tripas pra fora. A gente ia averiguar, mas mandaram a gente ligar pra sua delegacia - dizia o rapaz com medo de ser taxado de insano
- Fica tranquilo, volta pro batalhão e não precisa preencher nada, o pereira vai tá te esperando pra te auxiliar ai no que você viu. - dizia ele com um ar de naturalidade e ao mesmo tempo de enfado
Pigarreou, cuspiu no chão e entrou no bar. Estava no final de Seropédica e ali qualquer coisa acima de cadeiras de plástico e cerveja barata era artigo de luxo. Tudo estava revirado como se um ciclone tivesse passado por ali. Uma trilha de sangue ia ao banheiro com a porta sanfonada entreaberta.
O cheiro era forte, e com um lenço que usava para limpar a testa, tampou o nariz. A cena, que parecia de terror medieval, estava ali a quase um dia, no chute dele. As pernas invertidas encaixadas de forma perfeita no quadril como se assim fossem naturalmente e o cabelo de fogo eram o menos estranhos, quando comparados com o sangue, as entranhas e o rosto completamente assustado, travado em um rigor mortis.
-Tempo que não via um curupira, ainda mais morto desse jeito - Resmungou consigo mesmo - Cadê a porra do perito pra fazer o laudo? Dezembro não tem um que salva.
Tirando a cena dantesca, não parecia ter nada ali que ele pudesse tirar de sobrenatural. A morte claramente foi a muitas horas e tinham poucas pessoas na região. Foi pra fora pegar algum sinal e ligar de novo para o perito.
Ao sair, procurava o número no bolso, imerso na raiva de trabalhar naquela semana, mal percebeu o vulto que o olhava fixamente
-Não imaginava que a Crimes Paranormais ia mandar uma viatura a esse fim de mundo - Dizia a voz do outro lado da rua
Imediatamente sacou sua pistola e olhou em direção ao barranco de onde vinha a voz. Um homem negro, de terno branco, chapéu vermelho, claramente segurando uma bengala enquanto se escorava no banco de madeira improvisado.
-Sandro. Sabia que você ia estar por aqui. Bora, você tem que prestar algumas explicações lá na DP. - Disse Cláudio, apontando firmemente em direção ao homem que não parecia nada intimidado.
-Mais respeito, inspetor, me chame de Sr. Cinábrio. Vocês sabem que estão violando o acordo, não é? Esse território é da associação e nós resolvemos nossos próprios problemas. Não que vocês fizessem muita coisa. - Dizia ele tirando um cachimbo do bolso do paletó
-Vai tomar no cu, porra - Disse ele com o dedo no gatilho - Uma morte dessas quebra totalmente o pacto, e você tem sorte de eu não descer aqui com a porra toda e trazer tudo abaixo, agora levanta esse rabo e vem pra ca antes que eu te encha de bala
- Ah, Inspetor Claudio, você não faz ideia do que ta acontecendo não é? - Disse ele acendendo e pitando o cachimbo. - As coisas vão mudar radicalmente, e não vai ter pacto que salve nossa relação
A luz dos faróis da viatura chegando cegou o inspetor, e ao gritar para abaixar, sentiu um vento no rosto, virou-se e o homem não estava mais ali. Esbravejou e foi em direção ao carro
- O que foi? Soube agora no rádio do caso - Disse o homem de bigodes brancos saindo do carro puxando uma maleta. - O silveira já está chegando, ficou pra trás no sinal, descobriu alguma coisa?
- Saci, doutor escarabel. Essa porra foi um saci, e isso vai dar merda - Disse ele guardando a pistola - Resolvam isso, eu vou voltar pra delegacia, preciso conversar com o delegado.
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