Tirei os sapatos, entrei e me ajoelhei. Ela estava vestindo a seda mais pura, com olhos serenos e sorriso dissimulado. Seu rosto branco e sorriso vermelho ornava com aqueles desenhos de plantas exóticas. Sentou ao meu lado e com delicadeza me pegou pelo braço, para que eu sentisse seu calor. Me serviu saquê e pediu que eu falasse da minha vida. Não parecia real, mas sentia vontade de contar cada pedaço pra ela. Troquei segredos enquanto ela me acariciava, e mesmo que ela não falasse muito, eu sentia como estivesse dentro do peito dela. Era confortado pela sua doce presença
Mesmo sendo falso, eu fazia o máximo para me enganar. As poucas palavras que ela me dizia pareciam serem feitas para mim, como se ela estivesse esperando para sempre aquele momento. No meio do meu estado ébrio, senti que havia finalmente redescoberto o amor. Sua mão macia me pegou e levou-me para o quarto. Enquanto ela se despia, sentia algo que a muito não sabia descrever. Seu corpo em mim parecia feito um encaixe de fechadura. Nossas mãos deslizavam-se ao encontro no meio do caminho. Sussurros diziam todas as verdades que queríamos dizer, no meio das mentiras construídas por aquele momento. E seus olhos, ah os seus olhos, olhavam tão fundo nos meus que me desbravaram sem o mínimo pudor. Estava rendido, entregue, prostrado. Eu era dela e de mais ninguém, e se de alguém ela foi, isso não importava, era comigo que ela estava. Sentia a mais profunda plenitude, e aqueles minutos viram dias, semanas, anos, éons.
Eu me levantei, e com o coração pesado, parti, sabendo que ela também iria. Quando retornei a minha cama, sentia um vazio imenso, que só ela seria capaz de preencher. Procurava seu corpo em cada canto, em cada esquina. Como a abstinência do ópio, sua falta me fazia querer arrancar minha pele. Eu não era capaz de viver sem que ela estivesse ali comigo. Precisava de tê-la comigo.
A procurei, e quando a achei, era melhor que não a tivesse encontrado. Seus olhos já não eram mais as infinitas piscinas que olhei um dia, e sim vitrais opacos e destituídos da luz que outrora vi. Seu sorriso agora estava cimentado em músculos herculeanos. Não que eles não existissem, só não eram mais para mim. Eu clamava pela sua voz, mas ela me negava, eu pedia seu toque, mas ela não aceitava.
Eu me ajoelhei para chuva e gritei aos céus, e tudo que ouvia era o silêncio.
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