Dizem que quando o escritor larga a pena, é porquê ele deixou de sofrer. Talvez já tenha sofrido o desencanto e, imerso na banalidade, tenha finalmente esquecido o mundo feérico em que habitava numa solidão quase clausural, e escolhido viver a simplicidade imbecílica da rotina comum. Neste caso, sinto me felizmente, podendo abraçar o comum sem me sentir escarificado por isso. Claro, sinto um tanto quanto saudosista a lembrar da autopenitência de pensar incessantemente nas respostas para aquelas perguntas nunca feitas, ou em buscar razão no irracional.
Parece um tanto quanto poético, e realmente é. Entretanto, peço ao caro leitor, que leve em consideração a mente infante daquele que vos escreve. Morre-se um pouco sempre que trocamos o pensamento por um protocolo, e disso, eu não quero que conste em minha causa mortis. Porém, sinto pela primeira vez que a tal maturidade me alcançou, com todos os seus flagelos e perjúrios. Mas, seria muita ingratidão se dissesse que com isso, nenhuma felicidade me veio. Estou sim, feliz na simplicidade, na oportunidade de não remoer o ordinário, de ter no trivial, um pouco de conforto.
A outra razão sempre citada pelo fim da inspiração é a ausência de musas. Não Calíope ou Melpômene, mas a fonte dos quais os trovadores bebem para cantarem suas trovas, a Beatriz que faz Dante mergulhar no sétimo círculo infernal. O sofrimento e a não-correspondência do Eros sempre foram as melhores motrizes da escrita. Quando o autor finalmente a tem, sua inspiração não morre, mas é direcionada a aplicação mais justa de todas, a reconstrução de andrógino.
Confesso, me vejo feliz, talvez pleno pela primeira vez. Não estou disposto a me justificar, ou fornecer um documento público de minha vida privada. Mesmo assim, é revigorante poder falar que, das razões mais íntimas para não se escrever, gozo e sofro da mais justa delas.
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