Foi nessa idade que as Cortes Celestiais designaram que Ele teria idade suficiente para realizar o sacrificio supremo e carregar a culpa quasi-infinita de toda a humanidade. Não há mais espaço para meninices.
Ai de mim que cheguei nessa idade e vivo em incontáveis casas decimais abaixo. Ainda temo, sofro, angustio e me sinto imaturo para tomar as decisões mais simples. Oxalá tivesse ao menos tanta certeza do futuro, que me permitisse celebrar o que já deslumbro.
Sempre esperei que uma alavanca mágica me mudasse de um dia pro outro. Que deixaria de gostar das minhas coisas bestas, dos erros púberes, das celebrações toscas. Infelizmente, ou quiçá, felizmente, percebi que tudo se atrela ao maldito movimento imparável em direção à propria cova. E que o pensamento machadista de que sua melhor versão se dá aos vermes é de uma veracidade invejável.
Perceba, você, o tom de requiém destas palavras, mas que nela, não existe nenhuma supresa. Nestes tempos, apesar de ainda distante, o fim ja é muito mais tangível. Onde era motivo de piada, hoje é motivo de certeza.
Certeza também, é estar preso na roda da vida. Um Samsara terreno. Repete-se e repetir-se-á os mesmos erros da geração anterior. Entender que você já não é mais uma massa disforme, e sim um oleiro que forma outros vasos, e com suas torpes mãos, vai errar também. E com a maldição da consciência, tentar corrigir o que é incorrigível.
Ainda há muito para se viver, mas muito menos do que já se teve um dia. Sacrifica-se o cordeiro e vira-se o carneiro.